Marcos 1:21-39 – A Autoridade de Jesus

A Autoridade de Jesus em Marcos 1:21-39: Um Estudo Expositivo


Este texto nos revela a autoridade de Jesus, que emana do poder da Sua palavra. As
passagens de Marcos 1:21-39 preparam-nos para os capítulos subsequentes,
demonstrando a autoridade de Jesus e o poder de Sua palavra. Neste episódio, fica
evidente a autoridade de Jesus sobre o mundo espiritual e sobre as doenças (Mc
1:21-39). Na passagem anterior, a autoridade de Jesus sobre os homens é destacada
na escolha dos primeiros discípulos e na resposta imediata deles ao comando de
Jesus (Mc 1:16-20). Esses eventos anunciam a chegada do Reino de Deus e a
restauração de todas as coisas: a restauração do relacionamento de Deus com o
homem (Mc 1:16-20), a destruição das obras de Satanás e seu aprisionamento (Mc
1:21-26), o poder de Jesus sobre a doença e a morte, inclusive doenças
consideradas maldições ou castigos de Deus, como a febre (Mc 1:29-34) e a lepra
(Mc 1:40-45), e a autoridade de Jesus para perdoar pecados, demonstrada na cura
do homem paralítico (Mc 2:1-12).

  1. A Palavra de Jesus Ensina e Liberta (Mc 1:21-28)
    A palavra de Jesus ensina e liberta, mostrando que todos estávamos presos e
    oprimidos por Satanás, mas Jesus nos libertou de suas garras. Jesus possui
    autoridade para ensinar e sobre o mundo espiritual e os demônios.
    a) Autoridade para Ensinar
    Jesus entra na sinagoga e começa a ensinar (Mc 1:21). Diferentemente dos mestres
    da lei, que discutiam interpretações e citavam outros rabinos para dar suporte aos
    seus argumentos, Jesus fala com Sua própria autoridade. Ele explica o texto e o que
    ele requer dos ouvintes, sem depender de interpretações de outros mestres da lei.
    Segundo William Lane, “Jesus não se baseava na tradição dos anciãos, mas falava
    com uma autoridade que vinha diretamente de Deus” (Lane, 1974, p. 72). Jesus tem
    em si a autoridade para explicar e aplicar o texto em si mesmo, pois Ele é o autor do
    texto (Mc 1:22).
    b) Autoridade sobre o Mundo Espiritual e os Demônios
    O que segue a esse primeiro momento de espanto é o relato da expulsão de um
    demônio. Esse próximo relato serve para demonstrar que de fato Jesus não era
    como nenhum outro mestre da lei e que a Sua autoridade vinha de Deus. O ensino
    de Jesus era autenticado pelo poder dos Seus atos, como os milagres, curas e
    2
    expulsão de demônios. James Edwards observa que “a autoridade de Jesus é
    demonstrada não apenas em Suas palavras, mas também em Suas ações,
    especialmente na expulsão de demônios” (Edwards, 2002, p. 50).
    Enquanto Jesus ensinava, “na sinagoga, um homem possesso de um espírito
    maligno” (Mc 1:23) aparece em cena. Ao que tudo indica, esse homem já estava na
    sinagoga e esse demônio se manifesta enquanto Jesus está ensinando. O demônio
    reconhece quem Jesus é, e em desespero grita: “O que queres conosco, Jesus de
    Nazaré?” (Mc 1:24). Precisamos notar que no primeiro século, acreditava-se que para
    se expulsar um demônio, eram necessárias algumas fórmulas mágicas ou
    encantamentos. Os homens tentavam diferentes maneiras de se obter controle e
    poder para expulsar um demônio de alguém. Uma dessas maneiras que se
    acreditava ser muito efetiva e necessária era conhecer o nome da entidade. Porque
    acreditava-se que se você tivesse o nome, você ganharia poder sobre aquela
    entidade, uma vez que o ato de nomear é o ato de ter poder sobre alguém. Por
    causa disso, alguns teólogos argumentam que o que o demônio está tentando fazer
    aqui é ter poder e controle sobre Jesus para o deixar livre. Um episódio muito
    semelhante vai ser registrado mais tarde por Marcos, onde o demônio de fato
    parece usar um encantamento ou uma forma de exorcismo para tentar controlar
    Jesus para que Ele não o atormentasse (Mc 5:7). Algumas traduções traduzem a
    palavra grega “ὅρκος” como “conjurar”. Essa palavra era usada em encantamentos ou
    fórmulas para expulsar demônios (Theological Dictionary of the New Testament, vol.
    5, p. 460-1).1
    “Sei quem tu és: o Santo de Deus” (Mc 1:24). O demônio, diferente de todos os
    outros presentes, entende as consequências desse encontro. Se Jesus é o Santo de
    Deus, a Sua presença é fatal no meio de pecadores. Deus, sendo santo, não tolera o
    pecado. A primeira coisa que Isaías reconhece quando ele tem a visão do trono de
    Deus é a sua condição pecaminosa diante de um Deus santo e todo-poderoso.
    Isaías diz: “Ai de mim!” (Is 6:5). Então a exclamação “O que queres conosco” pode
    1 A palavra “ὅρκος” (orque, juramento) e seus derivados estão relacionados com práticas de encantamento
    ou expulsão de demônios na antiguidade, embora essa ligação seja mais evidente em alguns termos
    derivados e contextos específicos. ἐξορκίζω (exorcizo): Este verbo, que é uma combinação de “ἐξ” (fora de)
    e “ὅρκος” (juramento), significa “expulsar sob juramento” ou “exorcizar”). ἐξορκιστής (exorcista): Este termo
    x uma pessoa que pratica exorcismos. Ligação com Encantamentos: Nos encantamentos, elementos de
    juramento ou fórmulas vinculativas são usados para aumentar o poder e a eficácia das palavras ditas.
    Textos Antigos: Referências históricas e literárias na literatura grega e judaico-cristã mostram a interligação
    entre juramentos e práticas de expulsão de demônios. Por exemplo, no Novo Testamento, encontramos
    relatos de exorcismos onde Jesus ou seus apóstolos comandam demônios a sair de indivíduos, e tais atos
    frequentemente invocam a autoridade e o nome divino (um tipo de juramento implícito). Função das
    Palavras e Fórmulas: As palavras não são meramente declarativas, mas performativas — ao serem
    pronunciadas de certa maneira e sob certas condições, elas realizam o ato de libertação ou purificação
    (Theological Dictionary of the New Testament, vol. 5, p. 460-1).
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    tanto refletir que nesse homem habitavam vários demônios quanto que todas
    aquelas pessoas que estavam juntas na sinagoga estavam em perigo por causa da
    santidade de Jesus, que é fatal para pecadores que não se arrependem dos seus
    pecados e que não estão cobertos com o Seu sangue para a justificação.
    Jesus, sem nenhum tipo de encantamento ou pergunta, apenas ordena ao demônio
    que saia! (Mc 1:25), e o demônio obedece imediatamente (Mc 1:26). Isso causa um
    espanto ainda maior na multidão, que já estava admirada com a autoridade de
    Jesus para ensinar. Mas além da Sua autoridade para ensinar, Ele exerce uma
    autoridade nunca vista antes sobre os demônios. As pessoas presentes espalham a
    notícia dos acontecimentos na sinagoga e a fama de Jesus se espalha rapidamente
    por toda a região (Mc 1:28).
    Pregando e expulsando demônios (Mc 1:24-26 c.f. Mc 1:39)
    O relato começa com Jesus ensinando e expulsando demônios (Mc 1:21-28) e
    termina com Jesus pregando e expulsando demônios (Mc 1:39). Qual seria a relação
    entre a pregação (ensino) da Palavra e a expulsão dos demônios?
    A palavra de Deus pregada traz libertação, cura, transformação e mudança de vida.
    Em primeiro lugar, a Palavra expõe os nossos demônios, aquilo que nos escraviza e
    nos leva à morte. Em segundo lugar, só a Palavra de Deus tem poder para expulsar
    esses demônios das nossas vidas, e consequentemente nos trazer transformação e
    libertação da opressão e das garras de Satanás. Como escreve o profeta Oséias:
    “Conhecereis a verdade e a verdade os libertará” (Os 4:6). Nós todos estávamos
    presos, cativos e oprimidos por Satanás, mas Jesus nos libertou das garras de
    Satanás através da pregação da Sua Palavra. A Palavra liberta!
  2. A Palavra de Jesus Cura os Enfermos (Mc 1:29-34)
    A palavra de Jesus cura os enfermos, mostrando que todos estávamos enfermos
    por causa do pecado, mas Jesus nos livrou da nossa doença mortal. Jesus tem
    autoridade sobre as doenças.
    a) Autoridade sobre as Doenças
    Saindo da sinagoga, Jesus chega à casa de Pedro e encontra a sogra dele com febre
    (Mc 1:29-30). A febre, segundo a tradição judaica, era vista como uma maldição de
    Deus por causa do pecado ou da quebra da aliança (Levítico 26:16; Deuteronômio
    4
    28:22).2 Jesus se aproxima, toma a mulher pela mão e a ajuda a se levantar, e a febre
    a deixa imediatamente (Mc 1:31). A presença de Jesus é suficiente para transformar
    e curar qualquer doença. A sogra de Pedro, curada, começa a servir imediatamente,
    apontando para a obra redentora de Jesus na cruz (Garland, 1996, p. 75). Robert
    Stein comenta que “a cura da sogra de Pedro é um exemplo claro do poder de Jesus
    sobre as doenças, demonstrando que Sua autoridade se estende a todas as áreas
    da vida humana” (Stein, 2008, p. 89).
    Esse episódio de Jesus curando a sogra de Pedro tem um significado teológico
    profundo, pois aponta para a obra redentora de Jesus na cruz. O maior problema da
    sogra de Pedro não era o fogo que a consumia internamente naquela hora, mas o
    fogo que a consumiria pela eternidade: o fogo da ira de Deus. Jesus extingue o fogo
    interno que consome a sogra de Pedro, dando a ela cura completa. Mas isso está
    apontando para o fogo consumidor da ira de Deus que Ele suportaria para justificar
    pecadores, possibilitando que eles tivessem um novo relacionamento com Deus e
    pudessem servi-Lo. É também interessante notar que a salvação chega à casa toda
    de Pedro por causa do chamado de Jesus na vida de Pedro e a sua resposta
    imediata em seguir o Senhor e obedecer ao Seu chamado. Quando Jesus entra nas
    nossas vidas e nas nossas casas, tudo é transformado.
    O relato dos acontecimentos na sinagoga havia se espalhado muito rápido, ao ponto
    de que os moradores da região trazem os seus enfermos e os endemoninhados
    para a frente da casa de Pedro para que Jesus os curasse (Mc 1:32-33). E Jesus cura
    a muitos (Mc 1:34). É interessante notar que aqui, mais uma vez, Jesus está
    expulsando demônios. Nessas três passagens (Mc 1:21-28; Mc 1:29-34 e Mc 1:35-39),
    Marcos relata que Jesus expulsa demônios. Isso deixa claro a guerra espiritual que
    nos cerca e como Jesus tem autoridade e está destruindo as obras de Satanás.
  3. A Palavra de Jesus Dependia da Oração (Mc 1:35-39)
    Se Jesus dependia da oração, o que nós devemos fazer? Jesus tem autoridade
    através da oração.
    a) Autoridade Através da Oração
    Ainda de madrugada, Jesus sai para orar e estar a sós com Deus (Mc 1:35). Mesmo
    sendo Deus, Jesus dependia completamente do poder e do mover do Espírito
    Santo. Ele vivia como nosso representante e entendia a necessidade de estar
    constantemente na presença de Deus, conectado com o Pai, pois a luta contra o
    2 David E. Garland, Mark, The NIV Application Commentary (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1996), 72.
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    reino das trevas era constante e o trabalho árduo (Garland, 1996, p. 76). Craig Evans
    destaca que “a vida de oração de Jesus é um exemplo para todos os crentes,
    mostrando a importância de estar em comunhão constante com Deus” (Evans, 2001,
    p. 112).
    A consequência da fama adquirida por Jesus pelos episódios anteriores é
    apresentada agora no próximo relato (Mc 1:35-39). Jesus ganha fama e todos estão
    procurando por Ele (Mc 1:37). Os discípulos estão procurando por Jesus para fazêLo voltar e atender as pessoas. Os discípulos têm uma agenda para Jesus, uma
    agenda humana que visa fama e reconhecimento. Mas Jesus não veio para nada
    disso. Ele deixa claro que a missão dEle não era a de satisfazer curiosos e
    interesseiros que O buscam apenas para ter suas necessidades materiais e
    temporais resolvidas. Ele veio para pregar (ensinar) o evangelho do Reino de Deus,
    pois o Reino era chegado. Assim como Jesus, o chamado dos Seus servos é pregar
    (ensinar) a Palavra de Deus. Pois só a Palavra tem autoridade e poder para
    transformar vidas, libertar pessoas, expor demônios e salvar da ira de Deus,
    trazendo reconciliação com o Senhor (Garland, 1996, p. 77).
    Bibliografia
  • Edwards, J. R. (2002). The Gospel According to Mark. Grand Rapids, MI:
    Eerdmans.
  • Evans, C. A. (2001). Mark 8:27-16:20, Word Biblical Commentary. Nashville, TN:
    Thomas Nelson.
  • Garland, D. E. (1996). Mark, The NIV Application Commentary. Grand Rapids, MI:
    Zondervan.
  • Lane, W. L. (1974). The Gospel According to Mark, The New International Commentary on the New Testament. Grand Rapids, MI: Eerdmans.
  • Stein, R. H. (2008). Mark, Baker Exegetical Commentary on the New Testament.
    Grand Rapids, MI: Baker Academic.

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